Déjà vu

Numa manhã nublada, abro as janelas do pensamento e vou andar por aí. Lá encontro pessoas que já havia visto, mas não lembro de onde, então aceno para elas que retribuem-me com gestos. Os pássaros se abrigam sob as árvores ainda molhadas da chuva e os primeiros raios de sol começam a aparecer. A terra da praia estava úmida e a água do mar fria, então subo para a grama, sento-me e fico a contemplar a paisagem. O dia estava lindo, o vento leve da maresia uivava de encontro aos grãos de aréia. Então, abro os olhos e acordo do sonho mais real que já havia tido, mas me surpreendo ao notar que estava ali no mesmo lugar que estivera antes. A sensação era uma espécie de um longo déjà vu mas eu tinha certeza que acabara de acordar. Nunca soube que eu andava durante o sono, aquilo não poderia ser real. E que pessoas eram aquelas com quem eu falei? Como tive a consciência de que nunca teria essa resposta, tentei dormir e continuar a ter visões.
Foi o que consegui depois de uma hora de tentativas. Mas dessa vez as imagens estavam diferentes, eu estava numa casa pequena com paredes amarelas, um belo jardim gramado e coberto de flores, com um pé de jambo, coelhos correndo e uma menininha com seus seis anos de idade, cabelos pretos e rosto angelical. Aquele lugar me transmitiu uma paz tão grande que todas as cores viam em tons pastéis. Eu senti que já havia estado ali, lembrava que sempre havia sonhado com tudo aquilo.
Ter aquela casa e ver minha filha brincando pelo jardim sempre foi o meu maior sonho. O nome dela será Sofia, eu sempre dizia. E ela era linda, com seu vestidinho azul estampado de borboletas. Tentei chegar mais perto dela, então tudo ficou branco e voltei a acordar. Se tudo não tiver passado de um devaneio e se eu pude realmente ver meu futuro, foi a melhor coisa que já me aconteceu. Pois tudo o que sonhei estava ali, exatamente igual. Foi muito emocionante saber que poderei ter tudo o que sempre quis.