Em
um instante de solidão, me encostei sentada no chão da varanda, abraçando as
pernas unidas, escondendo meu rosto entre as dobraduras do meu braço esquerdo. Afastei
a face do braço por um segundo, as lágrimas escorreram. Chorei sozinha sem ser
percebida. Não sei dizer ao certo o que passava na minha mente, mas era uma
grande mistura de insegurança, impotência e incompreensão. Tanto desvelo, tanta
incerteza de um futuro, tantos fatos percorridos em uma velocidade espantadora.
Minha mente trabalha na velocidade da luz e quase não descansa.
Nesse
dia meu companheiro estava em casa, mas de tão súbita que minha melancolia foi,
ele nem sequer notou minha voz inebriada, já disfarçada por um banho quente e
imediato. Não sei o que se passa. São tantas coisas ao mesmo tempo e tantas
dúvidas. A ansiedade tem me consumido. Penso em escrever, começo um ensaio,
discorro a cerca de algo. Mas esbarro no sempre presente fantasma da autocrítica
exacerbada. Tento explicar o motivo de ser assim, taciturnamente disfarçada de
um sorriso. Busco em meus pais algo que possa indicar minha descendência. Mas
nada é plausível, nada se encaixa. Sinto que tenho mais em comum com as
Clarices e as Virgínias desse mundo a fora do que com meus ancestrais. Nasci
assim, com essa sensação de incompletude, tentando preencher esse espaço fazendo
tudo na mesma hora. E quando penso que não, já criei um novo monstro, já me
amarrei numa cama de gato difícil de sair.
Tenho
sido sempre assim. Não é um problema com os outros, é um problema comigo mesma.
Uma dificuldade enorme de aceitação, de acreditar em mim mesma. Por não confiar
em mim, distraio minha atenção para qualquer coisa que me ponha longe do meu
auto-julgamento. Onde moro, o que não faço, como o tempo voa, como me cobro por
não conseguir uma mudança de hábitos, dos móveis da minha casa, nada disso passa
pela cabeça de ninguém. O possível apartamento para alugar, uma quase
impossível compra de imóvel, um carro que vai sair da oficina, o barulho dos
vizinhos. O desemprego, a greve da universidade, minha falta de atividade,
minha obrigações domésticas. Um furacão de problemas. Minha filha, meu
companheiro, meus pais, minhas irmãs presentes virtualmente, meus irmãos
distantes não sabem o que se passa. Sinto uma falta enorme da pessoa que mais
me dá suporte, ausentada agora, mais que tudo, por motivos de trabalho. Nesse
instante que redijo esse desabafo já não posso conter as lágrimas. E se um dia
algo de trágico vir à tona, que tenho tentado evitar com todas as minhas
forças, digo que minha capacidade de absorção se extinguiu.
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