Enquanto ele a abraçava, sussurrando poemas e declarações de seus desejos, ela não esboçava reação alguma. Concentrava-se em quem estava ao seu lado direito. Ela mal prestava atenção no que falava o rapaz. A sua maior preocupação era simular uma expressão de desinteresse. Mas não ousaria em falar isso ao seu amigo, que por não ter sido interrompido, achou que ela lhe dava chance. Mas não, ela não queria que o outro, seu maior amor platônico, os visse juntos. A moça não fazia menor idéia se seria correspondida, mas a esperança da dúvida a fazia agir com uma frieza quase esquizofrênica, ao que não se tratava daquele outro moço.
Porém, depois daquela noite, as coisas começaram a mudar. Ela foi percebendo que sentia um carinho especial por seu amigo. Gostava de estar na presença dele, adorava fantasiar ser sua musa inspiradora. E tudo não passava de vaidade, de narcisismo. A moça queria ter seu ego inflado. E o rapaz sabia bem disso, então não a poupava de elogios. Fazia questão de exaltar as qualidades da moça para os seus amigos. E ela, por mais que gostasse do elogio, nunca chegou a acreditar nele. Mas mantinha um sentimento indeciso.
Algo a impedia de amá-lo. Talvez fosse a convenção que ela criara sobre tipos físicos. O tipo dele não a atraía, mas ela estava prestes a confessar que um sentimento estava nascendo. Outro obstáculo tolo era o fator da idade, por ser mais velha que ele três anos. Ela tinha um certo preconceito contra rapazes mais jovens. Apesar disso, esse conceito estava sendo quebrado pela observação da personalidade do rapaz. Parecia ser muito mais maduro do que sua real idade. Algo que ela se recordava era da sua surpresa ao saber ter ele vinte anos. Ela imaginava que ele diria "vinte e cinco" com sua voz bonita e encorpada, uma voz grossa. Ela também pensou isso por causa do rosto dele, já barbado. Por seu jeito de quem não era mais um menino, um jeito de quem carregava nas costas uma vasta experiência da vida. Além disso, o rapaz era um poeta de muito talento.
Essa admiração não queria mais se calar. Mas depois de tantas recusas, a moça já não sabia como falar. Então encontrou uma maneira, a qual tinha certeza dele se agradar. Ela se abriria em forma de prosa, já que este sempre foi o seu jeito predileto de se confessar. E assim se completa a mais pura verdade, que somente por uma tola vaidade não foi expressa antes de coração. Agora já não há mais porque camuflar a emoção que sente ao encontrar com aquele rapaz.
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