segunda-feira, março 15

Lomo espera

De fato, hoje eu acordei num dia levemente nublado. Fui ao terraço da minha casa e o vento produzia um frescor gostoso. O sol já estava no céu, mas encondido atrás de finas nuvens. Eles formavam uma imagem de um dourado fabuloso. Eu imaginei como deveria estar aquela cena vista da praia. Pensei em dar um pulinho por lá com Sofia, mas as obrigações do dia-a-dia me fizeram desistir do passeio. Claro que também pensei logo em fazer algumas fotos (meus vícios sempre me sobem à cabeça nessas horas). Mas deixei esses planos pra outro dia. Talvez porque eu não esteja tendo muita sorte com fotografia nos últimos tempos.
Acontece que eu comprei uma câmera lomo, a qual esperei ansiosamente chegar da China por um mês e meio. Essa maquina é uma Holga 120 cfn e ela, normalmente, só trabalha com filmes em 120mm. Mas, com alguns truques, é possível fazer uma adaptação para 135mm. Foi o que eu fiz com dois rolos. Num deles eu usei a técnica de redscale, que consiste em colocar o filme invertido (de cabeça pra baixo, ou seja, com o lado que normalmente é exposto a luz virado para frente) na camera. Assim que terminei de fazer as fotos, fui correndo deixar os negativos no único laboratório da cidade que revela e scaneia fotos em 120mm. Mas, por ironia do destino, a máquina de scanear da loja havia queimado devido as baixas de energia que estavam acontecendo com frequência. A moça me disse que estava esperando um técnico chegar de Natal e ele avaliaria o problema da scanner.
Eu ligava praticamente todos os dias pra loja pra saber se aquela bendita máquina já estava pronta, mas fiquei sabendo que era preciso mudar uma peça e esta ainda estava a caminho, vindo de São Paulo. Pra completar a situação, faz três dias que eu tento ligar pra esse laboratório e ninguém atende, mas a moça da outra filial me informou que a scanner ainda não foi consertada. Eu fico me perguntando "Será que essa peste nunca vai ter conserto e eu nunca vou conseguir digitalizar minhas fotos?". Haja paciência!
Ainda bem que eu já estou trabalhando e vou ter um passa-tempo pra parar de pensar um pouco nisso. Mas amanhã volto a ligar!

domingo, março 14

Águas de março

Onde estão as águas de março, São Pedro? Parece que o senhor resolveu castigar minha terra Paraíba com esse calor escaldante. O Sol queima minha pele às 6 horas da manhã na ida ao trabalho. À tarde é pior, parece que estou fazendo um estágio para ir pro inferno. Com tanta exposição, os sinais aumentam cada vez mais no meu corpo e a melanina grita em vermelhidão. Haja filtro solar!
João Pessoa é a cidade onde o Sol nasce primeiro e, pelo visto, o câncer de pele também. Eu já tenho a carga genética desse mal e parece que a natureza não quer mudar o rumo da prosa.
Quando as nuvens deixarem a timidez de lado e as águas finalmente chegarem pra nos dar um alívio, embora não dilúvio, espero que durem para além maio. Vou passar meu aniversário tomando banho de chuva. Eu quero ver essas águas inaugurarem as recém-calçadas ruas do meu tão querido bairro Bessa. Quero ver a lama limpa, antes barrenta, escorrer pelas bocas de lobo e formar possinhas na minha calçada. E os arco-íris? Quero ver vários a colorir nosso céu.
Só peço que não mandem muitos raios e trovões. Eles me dão aflição. Por vezes, tenho a sensação de que o céu vai desabar. E nunca descarto a possibilidade de um raio cair justo na minha casa. Mas é assim mesmo, todas as coisas boas tem os seus revezes. A moeda carrega em si a cara e a coroa, que são opostas, mas se complementam.
E hoje vou dormir esperando acordar num dia, ao menos, nublado.

segunda-feira, março 8

lomo regret

Um traço na mão, um brilho no olhar. Uma luz na cidade baixa, uma estrela na escuridão.
Uma voz aveludada, um sorriso disfarçado. Um abraço caloroso e duas mãos se despedem ao longe. O tempo não passa e a distância aumenta. As memórias se apagam e a noite continua, embalada pela solidão.
O filme foi revelado. O negativo ficou muito claro, onde antes era escuro. A imagem não vem à mente, está difícil resgatar. Ficou certo que era só uma ilusão.
Faltou uma peça do quebra-cabeças, que não se enquadra na digitalização. E escapa na foto lomográfica de uma recordação.