É estranho olhar para trás e vê que algo lá ficou perdido. Deixei uma parte de mim naquele lugar, como o lado esquerdo na minha válvula mitral. Que meu coração ainda bate, isso é fato. Mas agora ele perdeu a pulsação. Anda meio descompassado, desritmado.
Olhando um albúm antigo, guardado na minha memória, eu vi algumas cenas que antes quis esquecer. Eram de abraços, beijos e sorrisos, eram de mãos dadas, caminhando na praia, eram de duas pessoas olhando o mesmo horizonte, eram de planos e sonhos que ficaram para trás.
Isso tudo um dia fez parte de mim, foi algo dado de corpo e alma e sem nenhuma maldade. E sinto que isso tudo foi morrendo aos poucos, foi-se apagando como estrelas ao amanhecer.
Mas tenho muitas saudades daquela pessoa, que via o mundo com os olhos de criança que dorme sossegada sob a noite enluarada. Tenho saudades daquele brilho dos mais utópicos sonhos que a tornavam tão leve. E dessa leveza, de flutuar nas águas do mar turvo da vida. Sinto muita falta dela que foi embora sem deixar recado. E que agora só pode ser encontrada nas mais longinquas lembranças. Aquela menina que me fez feliz um dia, se foi para me deixar viver assim como sou. E hoje vejo o quanto mudei, mas ainda sinto falta.
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