Desde o surgimento do documentário em 1922, com o Nanook do Norte de Robert J. Faherty, criou-se uma discussão sobre a proposta de documentar os acontecimentos de uma forma real ou de uma forma atuada. Nesse filme é mostrado o cotidiano de uma família de Inuit, povo indígena que habita a região do Alaska. O documentário foi bastante criticado, pois tinha como intuito mostrar fatos reais, mas alguns takes foram encenados, como a cena da pescaria.
Algumas décadas depois, na França, surgiu um filme que reapresentou a proposta de mostrar a realidade, através de entrevistas casuais de moradores de Paris. Era "Crônica de um verão" de Jean Rouch e Edgar Morin. Os dois cineastas criaram a vertente de documentário Cinema direto, que captava imagem e som simultaneamente sem uma mixagem posterior. Com o advento da fabricação de câmeras menores, que sincronizavam o som direto e que eram de melhor manuseio, passou a existir uma maior mobilidade para o deslocamento e filmagens do cotidiano. Ao final, o próprio documentário de Rouch e Morin suscita o questionamento de se as pessoas entrevistadas estavam sendo sinceras ou se em algum momento exageraram em frente as câmeras.
Essa vertente foi bastante bem vinda pelos estudantes de cinema e comunicação. Inclusive, aqui na Paraíba houve um grupo que participou de um atelier de Cinema direto promovido pela Kodak e pelo próprio Jean Rouch. Alguns alunos de Comunicação Social da UFPB, munidos com as recém lançadas câmeras super-oito, viajaram para França para aprenderem as técnicas de documentação. Entre eles estavam João de Lima e Bertrand Lira, que hoje são cineastas e professores de Comunicação.
Grandes cineastas foram despontando para o cinema direto. Um deles foi o ex-jornalista do Globo Reporter, Eduardo Coutinho, que imprimia em suas reportagens toda a narrativa de documentário. Entre seus filmes estão "Cabra marcado pra morrer", "Peões" e "Edifício Master".
Em 2009, Coutinho dirigiu "Jogo de Cena" que é uma espécie de entrevista, na qual mulheres de idades variadas contam suas estórias. O ponto que difere esse dos outros documentários influenciados pelo cinema direto, também chamado de cinema verdade, é a provocação da mistura de documentário com ficção. A participação de atrizes famosas (Marilha Pêra, Fernanda Torres e Andréa Beltrão), também contando estórias, gera a inquietação de se saber se o que estava sendo falado era verídico ou atuação. Ao passo que duas mulheres, sendo uma atriz e outra não, passam a relatar o mesmo fato a ideia do que é real vai se formando. No final de cada entrevista com as atrizes, Coutinho tem uma conversa indagando a sensação de interpretar um papel real frente a frente com o diretor do filme. Nesse ponto, a característica de documentário sem ficção volta. Aí está a genialidade de "Jogo de Cena", retomar o questionamento, na sua própria narrativa, sobre a veracidade do que se narra.