terça-feira, dezembro 29


Um breve adeus

Longe é a distância que separa o pensar do agir. Não me importo que não estejas aqui. Pois sempre estiveste. Mesmo ao meu lado, tu não estavas ali.
Eu sei que a falta de ação gerou um abismo, não mais físico, mas um vão psíquico. Evitei, por medo, muitas situações. Boas ou ruins? Nunca saberei. Mas que na minha imaginação sempre existiram.
Que fascínio o inatingível me alcança. Do alto do céu ao chão de terra há um mistério que envolve o pensamento. Mas que nunca saberei decifrar. Não enquanto não vir o seu olhar. E espero que ele me diga algo. Mas é o meu, com olhos de bandeira, que me entregam no ar.
À essa hora tu já deves saber do que estou a falar. Outro dia nos veremos. Eu, com mais sapiência, vou parar de fingir que não te vejo. E tu, mais atencioso, talvez me tires pra dançar.

quarta-feira, dezembro 23

Prosódia

O eco do silêncio reflete no translucido horizonte da gota d'agua, que transborda copo a fora e derrama-se novamente no vácuo contínuo da memória.
Fisionomias lembráticas misturam-se na dança dos vultos apreensivos de uma noite de festa com luzes amarelas ofuscando aqueles olhos, grandes amêndoas castanhas.
Esquecimento repentino proposital, convencional e oportuno: Não sei quem sou.

quinta-feira, novembro 5

Meus olhos

Hoje eu vi que ainda sobram sonhos em meus olhos. Eles estão escondidos, mas bem lá no fundo ainda há um brilho. Querem voar como um passarinho sobrevoa o mar e dá um mergulho razante em busca de um peixinho. Querem abraçar o vento, sentir o toque da música do oceano
e flutuar na fina película hidrogênica da vida. Querem nadar pela imensidão do infinito, sendo uni ou sendo verso, querem cantar bonito. Só para espantar a energia negativa querem dançar um samba na voz da pimentinha. E acima de tudo, querem olhar e olhar para gravar na memória tudo o que há de belo. Querendo ser imortais, na eterna existência para quando chegar a noite dormirem tranquilos sabendo que a vida é tudo isso que há num sonho. Fecham as pupilas e, então, descansam em paz.

quarta-feira, novembro 4

Aquela menina

É estranho olhar para trás e vê que algo lá ficou perdido. Deixei uma parte de mim naquele lugar, como o lado esquerdo na minha válvula mitral. Que meu coração ainda bate, isso é fato. Mas agora ele perdeu a pulsação. Anda meio descompassado, desritmado.
Olhando um albúm antigo, guardado na minha memória, eu vi algumas cenas que antes quis esquecer. Eram de abraços, beijos e sorrisos, eram de mãos dadas, caminhando na praia, eram de duas pessoas olhando o mesmo horizonte, eram de planos e sonhos que ficaram para trás.
Isso tudo um dia fez parte de mim, foi algo dado de corpo e alma e sem nenhuma maldade. E sinto que isso tudo foi morrendo aos poucos, foi-se apagando como estrelas ao amanhecer.
Mas tenho muitas saudades daquela pessoa, que via o mundo com os olhos de criança que dorme sossegada sob a noite enluarada. Tenho saudades daquele brilho dos mais utópicos sonhos que a tornavam tão leve. E dessa leveza, de flutuar nas águas do mar turvo da vida. Sinto muita falta dela que foi embora sem deixar recado. E que agora só pode ser encontrada nas mais longinquas lembranças. Aquela menina que me fez feliz um dia, se foi para me deixar viver assim como sou. E hoje vejo o quanto mudei, mas ainda sinto falta.