quarta-feira, fevereiro 24

Olhos dissimulados

Tu já tens um amor? E o que eu senti por ti, tudo o que eu sonhei para nós dois e todos meus planos pueris? Como ficam? Como posso caminhar pela praia, sentindo o mar nos meus pés e suspirar se já tens um amor? Como posso sair à noite a tua procura na esperança de um encontro casual se já amas outro alguém? Vou suportar viver assim, sabendo que minhas ilusões não serão correspondidas? Porque tu não me olhas nos olhos e só acenas de longe? Teu amor estava ali?
Me entristece ver que o sentimento alheio já não tem mais importância. Eu sei que você percebeu que eu estava na sua. Mas porque fugiu? Esperava que eu dissesse com todas as palavras o que me tirava o sono pra, só então, dizer que já amava outra? Você ao menos poderia disfarçar. Acabou ficando feio te ver assim, fugido.
Mas, no final das contas, acho que acabo sendo eu a maior culpada. Por me apegar a pequenos detalhes, a carícias falsas, a sorrisos cínicos e a olhares maliciosos. O que posso fazer se me atraio pelos caras errados, que alimentam sentimentos, que ocultam suas verdades e depois somem se escondendo?
Será que minha imaginação sonhadora vai achar um jeito de pensar que você não queria ficar na minha presença estando com seu verdadeiro amor e assim, me fazendo sofrer? Se houver tal possibilidade já aviso que não vou cair nessa. Certas experiências são construtivas e nos ajudam a crescer. Agora já vejo as coisas de outro modo. Não me apegarei a casualidades sem futuro. Não sofrerei em não olhar mais em certos olhos dissimulados. E não me ocuparei mais em fantasiar situações ilusórias.

Um tranquilizante natural

Ontem eu dormi olhando um céu estrelado de fevereiro que guardei na minha memória. Quando passei pela rua, à noite, tive uma visão maravilhosa que não pude esquecer e a levei para meus sonhos. A lua produzia um brilho amarelo ao seu redor que clareava as nuvens e a constelação de Orion estava perfeitamente visível. Procurei por um touro feito de estrelas, mas tudo que pude ver foram dois peixes. Já era a época deles e estavam ali marcando presença. Essa atmosfera me inspirou um sono profundo de criança. Ao amanhecer, acordei cantando com Sofia ao meu lado. Não lembro a melodia que inventei na hora, mas foi algo espontâneo.
Sempre gostei de tirar um pouco os pés do chão, de sair da minha natureza terrena de taurina. Afinal, tenho preferência por meu ascendente pisciano. Com um pé na terra e outro no mar, por vezes me confundo em meio a minha dualidade astral. A leveza dos peixinhos sempre me encantou e eles sempre nadaram ao meu redor. Um dia quero incorporar esse tipo de personalidade pra mim.
O oceano onde nadam esses peixes espertos me atrai e, de uma forma inexplicável, lá eu me sinto em casa. Gosto de flutuar nas águas mansas do mar, deixar a correnteza me levar e sentir o peso energético do meu corpo escapar. Ao sair da água salgada, me sinto nova e mais limpa. Desde criança fui criada nesse ambiente e a praia é o lugar onde eu me encontro ou me escondo quando preciso. Não há nada mais tranqüilizante do que dormir numa rede ouvindo o som das ondas. Um dia eu tive isso e aproveitei com plenitude, mas hoje já não tenho. E como sinto falta! Sempre soube que nasci para estar ali no mar, na areia da praia, sob a lua cheia. Não existe lugar mais perfeito para aliviar minha alma.

terça-feira, fevereiro 16

Já faz tempo

Já faz tempo que eu me vejo assim. Olhar perdido, fixo no horizonte ou sempre buscando algo por onde caminho. Parece que algumas coisas caíram do meu caminhão de mudança na estrada. É como algo invisível, mas que abstratamente deixou um certo vazio. Não me falta parte nenhuma do corpo, tenho tudo que me é preciso. Mas penso que na minha mente existe um vão, que sempre me faz ficar absorta. Talvez em cada lugar em que eu tenha passado eu tenha deixado um pouco de mim. E em cada pessoa que eu conheci, ao me despedir esqueci, por querer, de pegar de volta algo que tinha emprestado. Assim quase não sobrou nada. E eu vivo tentando juntar os meus pedaços nas minhas recordações. Mas é inútil. Eles nunca voltarão a ser da mesma forma que eram antes.

Com o passar dos anos, fui percebendo que esse vazio que se estabelecia na minha mente afetiva poderia possivelmente ser preenchido novamente. Desta vez com novas sensações, novos contatos e novos conhecimentos. Fui aprendendo que a vida requer uma eterna reciclagem sentimental e que é impossível viver bem com um completo arrependimento e com o pesar da nostalgia. Só assim eu compreendi o porquê de certas dedicações tomarem um tanto da minha personalidade. Elas estavam me preparando para minhas futuras experiências.

Mesmo assim, sei que é impossível não lembrar com saudosismo de pessoas que eu deixei pra trás na minha infância, por exemplo. Ao pensar nelas eu imagino uma fotografia com tons sépia. Cada sorriso, cada abraço, cada lágrima, cada briga e cada perdão estão bem guardados na minha memória como se fossem fotocópias de lembranças. E hoje sei que não posso mais voltar atrás. Mas também carrego comigo a certeza de que, depois de muitas despedidas, esses hiatos hoje me tornam uma pessoa melhor e mais forte.

segunda-feira, fevereiro 8

A opinião do brasileiro

O número de noticiários sobre escândalos envolvendo a corrupção do poder público no Brasil é cada vez maior. O povo brasileiro está muito bem informado sobre desvios de verbas e mensalões. Em contraponto, observa-se a apatia dessa população tão lesada dos seus direitos. É raro vermos movimentos nas ruas em protesto a corrupção. Talvez isso esteja ligado a forma como a mídia lida com o repasse das informações. Habituou-se a seguir uma programação factual em que o espectador da notícia atua como mero observador, sem poder algum de modificar a realidade. O povo se sente acuado, reprimido, por um sistema desordenado, onde ninguém é punido, e simplesmente assiste aos fatos sem saber do imenso poder de protesto que tem.

Mesmo com o avanço da tecnologia e o crescimento da inclusão digital promovendo maior alcance da internet nas comunidades menos favorecidas economicamente, a televisão continua sendo o principal meio de comunicação no Brasil. E por isso ela tem grande poder como formadora de opinião. Mas o modo editorial como os telejornais informam a população brasileira faz com que esse meio torne-se apenas um passa-tempo voltado para o entretenimento. Observa-se que os principais jornais enfatizam temas como a corrupção, mas logo em seguida mudam o foco dos assuntos para coisas triviais, como futebol, ou para o cotidiano. Essa é uma forma de desviar a atenção de um tema tão importante para a população.

A grande esperança de transformação da mentalidade dos brasileiros está na forma que eles absorvem as notícias repassadas pela mídia. E o principal passo para o cidadão brasileiro ter consciência do poder de cobrar sues direitos está no entendimento da importância da sua voz como opinião pública e fator fundamental no futuro do Brasil.

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Essa foi minha redação do Enem. Nota: 850