Numa noite seca e sem sinal de nuvens, eu estava em meu apartamento, no segundo andar, conversando com meu marido. Fui até a janela contemplar a vista da cidade e reparei que começava a chover, mas era uma chuva fina. Olhei atentamente para ela e percebi que não era água que caia do céu, era areia. De repente a chuva tornou-se torrencial e os grãos de areia começaram a cobrir a minha janela. Imediatamente eu fiquei em pânico achando que todo o prédio ficaria soterrado e eu não conseguiria sair dali. Então desci correndo os lances de escada, quase pulando os degraus. Mas chegando até o térreo eu vi que a tempestade havia cessado, eu pude facilmente abrir o portão do edifício e sair à rua. Mirei o céu, ele parecia uma imensidão azul escura novamente e estava repleto de estrelas.
Já aliviada, caminhei pela avenida central. Aquela parecia uma noite normal. Logo em seguida encontrei um grupo de amigos que me convidaram para sua confraternização, mas eu recusei. Voltei a minha caminhada e fui visitar minha tia Vera, fazia muito tempo que eu não a via.
Cheguei a sua casa e ela foi até a calçada para me receber. Conversamos sobre o que tinha acontecido e ela falou que não tinha reparado nada daquilo. Então eu comentei que o céu estava muito bonito e olhamos para cima. Foi quando reparamos que lá havia uma espécie de nave circulando e fazendo curvas. Ela tinha cinco luzes e se movia em zig-zag. Isso foi mais um motivo de espanto para mim. Pensei que estava vendo uma nave extraterrestre. Mas um vizinho que passava por nós comentou que ouviu na rádio que aquele era um experimento de um novo transporte, era como um ônibus aéreo. Ele nos disse que ainda estava em fase de testes e a prefeitura estava chamando voluntários para viajarem nele. Disse também onde estava sendo a partida dos vôos. Então minha tia e eu nos dirigimos para o local, estávamos curiosas com esse novo evento.
Chegando lá, uma das naves estava aterrissando e pegamos carona com ela. Minha tia passou mal com as voltas do percurso, mas eu segui empolgada. Apesar de a viagem ter sido curta.
Voltando ao chão eu perdi minha tia de vista. E fui andando até um ponto de táxi a fim de retornar para casa. Foi quando o carro do meu pai cruzou o meu caminho e ele me deu uma carona. Ao chegar de volta ao apartamento fui até a varanda e de novo olhei para o céu. Dessa vez o meu susto foi maior. Quando olhei para a lua ela parecia gigante e muito mais próxima da Terra. Mas isso não era tudo, ao seu lado eu pude ver um planeta vermelho. Logo cogitei que fosse Marte. Assustada eu gritei "pai, vem aqui ver isso!". Ele também ficou perplexo, principalmente depois que eu avistei, bem de longe, outro planeta. Era Saturno. Ele não aparecia por completo, mas eu pude ver seus anéis formarem um arco ao seu redor. Nessa hora eu senti uma energia estranha dentro de mim e minha mente ficou mais leve.
Então eu olhei para a esquerda da Lua e mais afastados vi cinco planetas alinhados em forma de uma figura geométrica. Eles surgiram nitidamente em seus formatos circulares e consegui ver até as suas cores. Havia um azul, outro roxo e os demais eram misturas de amarelo, vermelho e verde. Todos juntos formavam um losango. Era como uma constelação, mas não de estrelas e sim de planetas.
Depois de todas aquelas visões eu pude ter certeza que aquela foi a noite mais estranha de toda a minha vida. Eu senti que aquilo tudo não era normal, tinha um ar apocalíptico e que me aterrorizou a ponto de não querer dormir com medo de acordar em meio ao fim do mundo.
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Acabei de descrever o sonho de que tive essa manhã. Jamais havia sonhado algo tão esquisito. E me senti na obrigação de relatá-lo.
"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos"
quarta-feira, agosto 22
Viagem astral
segunda-feira, agosto 20
"Penso, logo existo"
Uma sensação estranha e ao mesmo tempo boa tem me acompanhado ultimamente. É algo que me deixa contente mas eu não sei explicar. Acontece que, por várias vezes, eu estive andando pelas ruas e sentindo alguns aromas que me rementem ao passado. Tem sido automático sentir um perfume e lembrar, por exemplo, de algo que me ocorreu na infância. O esquisito é que eu tenho essa sensação de retomar alguma coisa mas que eu não sei o que é. E fico tentando puxar pela memória o que seria aquilo. Mesmo não relembrando eu fico com um sentimento bom, como se estivesse vivendo aquele momento de novo. Isso é fantástico, é como uma viagem no tempo. As vezes chego a me emocionar e um suspiro vem inevitavelmente.
A mente humana é cheia de mistérios. Como o poder de fazer alguém viajar através dos pensamentos. Quando você menos espera se pega olhando para uma simples folha caindo de uma árvore e mil histórias passam por sua cabeça. São tantas recordações e sentimentos guardados nessa caixa pensante que formam nossa personalidade. Eu acredito que ninguém possa apagar completamente da memória algum evento, ou sentimento. É como no filme "Brilho Eterno de uma mente sem lembranças". Apesar desse ser o desejo de muitos, é impossível. A não ser, é claro, quando se tem alguma doença degenerativa como amnesia. O que também é muito triste, não lembrar de nada do que aconteceu em toda uma vida.
Uma mensagem recebida pelo consciente leva a outra interpretação do inconsciente que fica guardada no subconsciente. Isso é fascinante. É de onde saem todos aqueles sonhos esquisitos e comportamentos que não conseguimos controlar. Isso é o que faz da psicanálise uma das mais belas e curiosas ciências. E o que torna o homem cada vez mais incompreensível para ele mesmo.
quarta-feira, agosto 15
Wailing Cry
[...]
Observando de longe, custo a entender a complexidade vaga daquela mente. Corre em círculos como o vento preso num copo vazio. O eco ressona a voz aguda de uma deprimente dor de cabeça. São as horas passadas em claro, são os vestígios de uma noite sonâmbula.
Como uma estrela cadente chama um pedido, ouço um grito a me chamar. É ajuda que ele me implora. Vôo ao seu encontro e vejo uma garota perdida no escuro. Ela dizia em lamúrias que não sabia aonde ir. Era prisioneira de seu ego, forte escudo protetor. E do mundo fez uma redoma para fugir dos maus espíritos, traiçoeiros e infames.
Ela sabia que quem bem conta histórias lhe poria em pó, sua verdade destruiria. Num golpe de foice viu uma cabeça cair, não era a dela. Mas sim a de uma mulher petrificada e de olhos vendados. Em algum lugar chamavam-na de justiça, mas aqui foi conhecida como a degolada. Ela não tinha valor em meio aqueles sussurros de vozes insanas.
[...]
All at once the wind has changed its song to a wailing cry
As it seems to call my name I know forever I'll walk alone